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“Não precisamos mais ser um partido, um site faz quase tanto barulho quanto eles”

Le mouvement commun Voix de Gauche. Pour que la Gauche reste une espérance

Esta frase me chamou muita atenção na matéria da revista francesa Nouvel Obs sobre as novas iniciativas cidadãs para as eleições de 2017. O desencanto com os partidos políticos e seus representantes é palavra de ordem corrente por aqui. E a população está se organizando para recolocar os cidadãos no centro do debate político. São novos coletivos, que não se organizam como partidos e, por enquanto, não disputam eleições. O Mouvement Commun, o Voix de Gauche e o Ma Voix, são exemplos disso.

Achei muito interessante que uma das iniciativas cidadãs aqui é tentar promover prévias por conta própria (La Primaire e Primaire de Gauche). Insatisfeitos com a falta de debate sobre quem serão os candidatos, os cidadãos tentam angariar dinheiro através de crowdfounding e reunir uma parcela significativa da população em uma plataforma que permitiria que eles mesmos fizessem essa primária. Essa tentativa abre diferentes frentes de discussão, mas me salta aos olhos o tipo de relação que se estabelece com os partidos políticos.

La Primaire Ouverte pour les élections de 2017   LaPrimaire.org

Apesar do discurso ser de que “já não precisamos mais deles”, a tentativa de fazer prévias mostra o respeito que há pela importância dos partidos e da decisão coletiva. Trata-se mais de um discurso de renvovação de práticas partidárias do que de uma adesão ao individualismo e à negação da coletividade, que à primeira vista esses movimentos podem trazer.

Palestra: Pesquisas e Indicadores para Monitoramento da Sociedade da Informação

Acontece no próximo dia 16 de abril a palestra “Pesquisas e Indicadores para Monitoramento da Sociedade da Informação”, do professor Alexandre F. Barbosa, do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação – CETIC.Br. O evento acontece às 10h, na Escola de Administração da UFBA, sala 20, 3º andar. Quem promove o evento é o NIDES – Núcleo de Pesquisa em Internet, Democracia, Estado e Sociedade e o NPGA – Núcleo de pós-Graduação em Administração – UFBA. A organização é do professor José Antonio Gomes de Pinho.

O CETIC.Br é um importante centro de pesquisa na área de comunicação e novas tecnologias. Eles desenvolvem indicadores e publicam relatórios sobre diversos temas. Muitos documentos estão disponíveis online, no site deles.

Criando um Governo Mundial da Internet

O mynet.gov surge exatamente com essa proposta. A plataforma permite que as pessoas se cadastrem e se tornem cidadãos mundiais da internet de acordo com a constituição definida por eles. A partir daí as pessoas podem se candidatar ou votar em candidatos ao governo ou ao congresso. O sistema já prevê sua forma própria de aprovação de leis, bem como a proposta delas, seja através pelo governo central, pelo corpo de ministro ou pelos cidadãos (veja o vídeo explicativo). Também é possível criar fóruns de discussão no site.

Me parece uma iniciativa interessante de pensar a governança global, mas não consigo ver a legitimidade que as decisões tomadas ali poderiam ter. Me parece que falta alguma vinculação efetiva com organismos internacionais e/ou governos para que essa iniciativa tenha suas decisões levadas em conta em algum âmbito.

Pesquisa sobre confiablidade dos media

A Pew Internet acabou de divulgar outra pesquisa que me parece bastante interessante. O objetivo dela foi averiguar como se dá o consumo de mídia e qual a percepção de confiança que as pessoas tem do material que advém dos media. A pesquisa completa pode ser vista aqui.

No geral, a pesquisa mostra que a desconfiança em relação à imparcialidade das informações advindas dos meios de comunicação de massa tem crescido ao longo do tempo. Apesar disso, eles continuam sendo as principais fontes de informação das pessoas. Também ficou claro que, apesar de considerarem os meios de comunicação genericamente como não confiáveis, quando se fala especificamente da mídia consumida por determinada pessoa, essa confiança aumenta bastante.

Outro dado interessante é que, em comparação a outras instituições sociais, como governo e empresas, os meios de comunicação de massa continuam sendo mais confiáveis. Senti falta nessa comparação da inclusão de uma comparação de confiabilidade com o conteúdo gerado pelo usuário nos sites de redes sociais, por exemplo. Mais a frente, no entanto, a pesquisa aponta que, mesmo quem procura informações online quer encontrar uma informação imparcial e não com determinada tendência política.

Há dados especificamente sobre consumo de notícias na internet, mas senti falta de uma atenção maior ao conteúdo gerado pelo usuário. Gostaria de ver uma pesquisa que incluísse isso como categoria de fonte de informação e comparasse aos meios de produção industrial.

Como está a liberdade no mundo?

O Democracy Web: Comparative Studies in Freedom é um interessante estudo sobre índices de liberdade em diversos países do mundo. Para avaliar a liberdade, eles consideram dois critérios: direitos políticos e liberdades civis. Posteriormente ele  classificam a liberdade de uma nação entre 1 (muito livre) e 7 (pouco livre) o que gera 3 categorias gerais de países: livres, parcialmente livres e não livres. Os resultados da pesquisa podem ser visualizados em um mapa bastante interessante, que permite ter uma visão mais global da situação. Além disso, ao clicar em cada país é possível ver informações demográficas e links para outros relatórios, como os de liberdade de imprensa.

Ao ver o título do projeto, me ocorreu uma ressalva: não dá pra analisar democracia só a partir de liberdades. Mas pesquisando no site deu para perceber que o projeto Democracy Web parece ser algo mais amplo.

Relatório sobre uso da Internet nas eleições de 2010

A pesquisa é de janeiro, mas confesso que só tive acesso a ela ontem. Apesar de tratar apenas da realidade americana, a pesquisa traz dados demográficos daqueles que usam a internet para fins políticos bem como os tipos de uso mais comuns. É possível encontrar também a divisão por partido – nesse quesito, o uso não apenas cresceu mais se tornou mais homogêneo entre democratas e republicanos. Alguns dos gráficos trazem comparações com a pesquisa realizada após as eleições de 2008, o que permite acompanhar a evolução de alguns quesitos. A pesquisa foi realizada pela Pew Internet, instituição bastante reconhecida na realização desse tipo de trabalho, e está disponível em PDF.

Internet e participação política no Brasil

Já está a venda o livro “Internet e Participação Política no Brasil“, organizado por Wilson Gomes, Rousiley Maia e Jamil Marques. A publicação reúne textos de nove autores que procuram discutir em profundidade diferentes perspectivas do tema proposto. Tema aliás, que a meu ver, é um dos mais importantes dentro das discussões sobre democracia digital.

Tive acesso apenas a alguns dos textos que constam no livro, mas sem dúvida a qualidade acadêmica dos autores promete que essa seja uma grande obra para a área. O lançamento oficial da obra será feito na Compós 2011, que acontece na próxima semana, em Porto Alegre.

TSE aponta internet como 3ª fonte de informação do eleitor

Social Network

Uma pesquisa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), realizada em novembro deste ano, apontou que a internet ultrapassou as mídias impressas e o rádio como fonte de informação sobre política e eleições. Isso coloca o meio online na terceira posição, apenas atrás da televisão e da conversa com amigos e parentes. O estudo foi feito a partir de 2000 entrevistas realizadas de forma aleatória em 136 municípios.

Esse resultado nos aponta caminhos de reflexão interessantes. Se por um lado a pesquisa não mostra dados detalhados sobre o consumo de informação dentro da internet (se em sites de notícias, redes sociais, listas de e-mail etc), por outro, o posicionamento da conversa com amigos e parentes na segunda colocação pode ser uma pista interessante. O ambiente online que mais propicia essa conversa com amigos e parentes e, sobretudo, a indicação de sites e conteúdos por eles são as redes sociais online. Portanto, acredito que podemos inferir dessa pesquisa que o grande meio de informação e formação da opinião sobre política e eleições são as redes sociais, sejam elas online ou offline.

Também é interessante observar que a pesquisa feita sobre a decisão do voto para o 2º turno coloca a internet apenas na 7ª colocação como fonte de informação. É bem verdade que as categorias oferecidas aos entrevistados são bastante diferentes da consulta geral (onde a internet ficou em 3º) o que complica a comparação de resultados, mas é um dado a ser considerado. Apesar disso, nessa pesquisa específica sobre o 2º turno, a conversa com amigos e parentes fica na 3ª colocação mostrando força que essa rede tem.

O relatório completo está disponível para download.

Debates políticos e internet

Desde o início das discussões sobre as mudanças nas regras de campanha política, pouco se falou da falta de familiaridade dos políticos com as próprias interfaces da campanha online. Essa falta de conhecimento da dinâmica da internet ficou muito clara com a proposta de que os debates na internet deveriam seguir as regras estabelecidas para televisão e rádio. Mais do que argumentar que a internet não é uma concessão pública e deve se constituir como espaço de liberdade, é preciso pensar: é possível realizar um debate na internet com as regras da televisão?

Convidar 2/3 dos candidatos, garantir tempos iguais e direitos de resposta, todas essas regras baseiam-se num modelo de comunicação mediada por corporações. Na televisão e rádio,, pelas emissoras, na internet, possivelmente, pelos grandes portais, mas quanto da internet representam os grandes portais hoje?

Digo grandes portais porque acredito que apenas eles teriam estrutura e verba para ter um estúdio, convidar candidatos, contratar mediadores e transmitir tudo isso online em tempo real. É preciso perceber que existem espaços de internet hoje muito mais propícios ao debate onde não há mediadores. Tratam-se das redes sociais. Nelas não há como convidar as pessoas porque elas já estão lá, não é preciso garantir o direito de resposta porque ele é naturalmente assegurado.

Se dois candidatos trocam tweets há um debate? E se discordam na resposta a um mesmo tópico de uma comunidade do Orkut? É necessário repensar e ampliar o próprio conceito de debate político para além do modelo da televisão e compreender as peculiaridades e potencialidades desses espaços antes que se queira agir sobre eles.