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“Não precisamos mais ser um partido, um site faz quase tanto barulho quanto eles”

Le mouvement commun Voix de Gauche. Pour que la Gauche reste une espérance

Esta frase me chamou muita atenção na matéria da revista francesa Nouvel Obs sobre as novas iniciativas cidadãs para as eleições de 2017. O desencanto com os partidos políticos e seus representantes é palavra de ordem corrente por aqui. E a população está se organizando para recolocar os cidadãos no centro do debate político. São novos coletivos, que não se organizam como partidos e, por enquanto, não disputam eleições. O Mouvement Commun, o Voix de Gauche e o Ma Voix, são exemplos disso.

Achei muito interessante que uma das iniciativas cidadãs aqui é tentar promover prévias por conta própria (La Primaire e Primaire de Gauche). Insatisfeitos com a falta de debate sobre quem serão os candidatos, os cidadãos tentam angariar dinheiro através de crowdfounding e reunir uma parcela significativa da população em uma plataforma que permitiria que eles mesmos fizessem essa primária. Essa tentativa abre diferentes frentes de discussão, mas me salta aos olhos o tipo de relação que se estabelece com os partidos políticos.

La Primaire Ouverte pour les élections de 2017   LaPrimaire.org

Apesar do discurso ser de que “já não precisamos mais deles”, a tentativa de fazer prévias mostra o respeito que há pela importância dos partidos e da decisão coletiva. Trata-se mais de um discurso de renvovação de práticas partidárias do que de uma adesão ao individualismo e à negação da coletividade, que à primeira vista esses movimentos podem trazer.

Escola de verão em Paris sobre comunicação, política e tecnologia

Em 2015, eu frequentei a primeira edição da Summer School do UPEC (Université Paris-Est Créteil). Eles ofereceram 4 tipos de cursos de 2 semanas, entre eles o IMPACT (International Media, Political Action and Communication Technologies). Foi uma experiência muito legal para retomar minha vida acadêmica (já que eu estava afastada fazia 2 anos), conhecer novas pesquisas, pessoas de várias partes do mundo e, sobretudo, a forma acadêmica de pensar francesa. Eu acho muito interessante e muito diferente a forma como eles organizam as terorias e o tipo de análise que deriva disso.

O UPEC conta com alguns nomes importantes da área de comunicação digital e política. Os dois coordenadores do curso são Stéphanie Wojcik, que coordena a rede de democracia eletrônica, e Benjamin Ferron, que estudou o movimento alteromundista no México durante seu doutorado e tem interessantes textos publicados, como este aqui.

Eles estão anunciando a edição 2016 do curso. Quem se interessar pode ir diretamente na página da universidade e mandar seu pedido de inscrição.

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Haddad participa de Dia sem Carro de Paris e é elogiado por brasileiros e estrangeiros

Foto: Nina Santos

Foto: Nina Santos

Por Nina Santos

O último domingo (27) foi escolhido pela prefeita de Paris, Anna Hidalgo, como o Dia sem Carro (Journée sans Voiture). Na data, a grande avenida Champs Élysées e outras ruas da cidade foram totalmente fechadas para carros e várias zonas urbanas tiveram a velocidade máxima dos carros reduzida para 20km/h. A prefeita de Paris caminhou pela Champs Élysées ao lado dos prefeitos de São Paulo, Fernando Haddad, de Bruxelas, Yvan Mayeur, e de Bristol, George Ferguson.

Durante o trajeto, os prefeitos pararam para cumprimentar vários grupos que ocupavam as ruas e reivindicavam mais espaço para pedestres e ciclistas. Além disso, Haddad foi abordado por brasileiros que moram ou estavam a passeio na cidade. Todos que se aproximaram do prefeito elogiaram as inovações urbanas feitas em São Paulo. “O que Haddad está fazendo um São Paulo é uma iniciativa corajosa. Podemos ver que há reações contra, mas é um passo importantissimo para humanizar a cidade”, disse Sérgio Moraes, arquiteto e professor da Universidade Federal de Santa Catarina, que está morando em Paris para fazer seu pós-doutorado.

Do lado francês, Patrick Klugman, encarregado de relações internacionais da Prefeitura de Paris, afirmou que a presença de Haddad na cidade foi enriquecedora e a troca de experiências entre Paris e São Paulo foi muito importante. “Sempre ficamos felizes quando os grandes prefeitos do mundo vêm a Paris nos mostrar suas expertises. Todo o mundo olha para o Brasil e para São Paulo, que é uma das cidades mais importantes do mundo”, declarou.

Foto: Nina Santos

Haddad contou aos jornalistas e politicos estrangeiros que São Paulo já teve a experiência de fechar a Avenida Paulista aos domingos e a medida teve 64% de aprovação da população, segundo pesquisa Ibope. “O projeto agora é fechar pelo menos uma rua em cada uma das 32 subprefeituras aos domingos”, afirmou. Além disso, ele contou estar elaborando um projeto de reestruturação dos bairros das margens do rio Tamanduateí.

Para o embaixador do Brasil na França, Paulo Campos, a presença de Haddad em Paris é “um reconhecimento da importância da cidade de São Paulo e do esforço do prefeito em rever a questão da mobilidade na cidade e em ousar na inovação de propostas. Isso tem muita relação com o que está sendo feito em Paris”.

Champs Elysées sem carro

Foto: Nina Santos

Ana Estela Haddad visita projeto francês de acolhimento a mães em situação de vulnerabilidade

Ana Estela Haddad com mães acolhidas no Centro Sésame - Crédito_Divulgação SECOM

Foto: Divulgação ASCOM

Por Nina Santos

O Centro maternal Sésame é uma iniciativa piloto da Prefeitura de Paris, que acolhe 28 mulheres em situação de vulnerabilidade grávidas ou com filhos de até três anos. O local foi visitado, na manhã desta sexta-feira (25), pela primeira-dama da cidade de São Paulo e coordenadora do projeto São Paulo Carinhosa, Ana Estela Haddad. O objetivo da visita foi o de conhecer iniciativas inovadoras que possam inspirar ações na cidade de São Paulo.

Paris conta com 10 centros maternais, mas o Sésame, inaugurado em junho deste ano, é o primeiro a trabalhar com um conceito de autonomia da mulher. Ele abriga mulheres que não têm onde morar com seus filhos e que passam por situações familiares complicadas. O objetivo do centro não é simplesmente prestar assistência em um momento de dificuldade, mas criar as condições para que as mulheres possam retomar suas vidas e entender com tranquilidade e segurança seu novo papel de mães. Para tanto, o centro oferece moradia em apartamentos, apoio pedagógico e psicológico, ajuda para encontrar emprego e para vencer os desafios do dia-a-dia da mãe e do bebê. “Elas chegam aqui em situações muito difíceis. Nosso desafio é, em três anos, conseguir restaurar uma dinâmica saudável de vida e de família”, afirmou a diretora do centro, a senhora Doutreligne.

Para Ana Estela, o modelo adotado pelo centro tem uma visão similar à da atual gestão de São Paulo na área social, ou seja,”trabalhar com os vulneráveis buscando construir autonomia”. Ela conversou com toda a equipe multidisciplinar do projeto e também com mães acolhidas no local. Em uma conversa bastante emotiva, elas contaram suas histórias de vida e como o Sésame as ajudou a se integrar socialmente e desenvolver a relação com seus filhos. “Eles nos preparam para poder voltar à vida”, contou uma delas. “Eu vivo como uma pessoa normal, mas não me sinto mais só. Se eu precisar de ajuda, sei que eles estão aqui”, relatou outra. “O comportamento da minha filha mudou depois que fui acolhida aqui. Ela se tornou mais sociável”, disse uma terceira.

Ana Estela Haddad no Centro Sésame - Crédito_Divulgação SECOM

Foto: Divulgação SECOM

Dentro do projeto, cada mulher tem uma conselheira, a quem pode recorrer. Além disso, as mães elegem uma representante que cuida da relação entre elas e o centro. As beneficiárias também contam com espaços de diálogo entre elas mesmas, para que possam falar livremente e trocar experiências.

Ana Estela ouviu atentamente os relatos e fez muitas perguntas para entender melhor o funcionamento do projeto. Ela também falou um pouco sobre a realidade paulistana e o desafio de acolher as adolescentes grávidas. Sobre a visita, a primeira-dama considerou que “soluções de outros países nos ajudam a pensar formas diferentes de abordar nossos problemas”.

“Eu votaria no Haddad”, diz prefeita de Paris em debate na Sciences Po

Fernando Haddad na Sciences Po

Por Nina Santos

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, encerrou o debate entre ela e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, na noite desta quinta-feira (24), dizendo que votaria no prefeito paulista. Ela fez a declaração após Haddad contar que havia sido questionado se não estava arriscando demais em seu governo e colocando sua reeleição em risco.

Os prefeitos participaram de um debate promovido pela renomada universidade Sciences Po, em Paris, para marcar a inauguração de sua Escola Urbana. Para o diretor da Sciences Po, Frédéric Mion, Haddad e Hidalgo são exemplos de prefeitos inovadores e progressitas. Uma sala lotada de estudantes escutou atentamente as estratégias dos dois políticos para mudar a realidade de suas cidades.

Após serem apresentados pelo decano da universidade, Patrick le Galés, como “dois prefeitos que sabem arriscar”, Haddad e Hidalgo discutiram diversos temas comuns às duas cidades, tais como o impacto de novas tecnologias como o Uber e o AirBnB e a relação entre questões sociais e ambientais. “Todos os problemas sociais são também ambientais, não podemos separar” afirmou Haddad. Hidalgo ressaltou a importância do poder público para garantir o direito à cidade para todos: “a regra do mercado não pensa nas pessoas em situação precária, com deficiência, nas crianças e nos idosos”.

Ambos considerados prefeitos inovadores em suas cidades, eles destacaram a importância de arriscar para construir coisas novas. Atualmente a prefeita Anne Hidalgo propõe uma revisão dos processos de decisão na cidade de Paris que afetaria tanto a relação com o executivo nacional quanto a participação cidadã. Já Haddad afirmou que se apóia em vários estudos acadêmicos e experiências internacionais para implantar suas políticas, mas que “não podemos ter medo de testar hipóteses e isso significa correr riscos”.

Também estiveram presentes ao evento o embaixador do Brasil na França, Paulo Campos, a primeira-dama de São Paulo, Ana Estela Haddad – que cumpre uma agenda de visitas a equipamentos voltados a crianças e jovens de Paris – e o representante do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO) em Paris, Leonardo Martins.