Recentemente uma vaquinha virtual feita por duas amigas de Dilma Rousseff chamou atenção ao conseguir arrecadar, em menos de uma semana, a meta de 5OO mil reais para as viagens da presidenta afastada. Este parece ser um exemplo que contradiz o senso comum de que “no Brasil ninguém dá dinheiro para políticos”. Não é o primeiro exemplo, claro, mas talvez o mais notável de que sob determinadas condições de temperatura e pressão os brasileiros sentem-se sim motivados a doar dinheiro para causas políticas.
Esta questão se torna ainda mais crucial este ano, quando teremos as primeiras eleições brasileiras sem financiamento empresarial legal das campanhas ou dos partidos. O financiamento público tampouco foi aprovado, o que abre uma grande questão sobre como as campanhas serão financiadas e quem se beneficiará disso. Creio que existe um consenso de que os custos das campanhas políticas no Brasil ultrapassou os limites do razoável, mas é preciso refletir sobre que modelo de financiamento pode ser mais republicano e justo com os candidatos e com a sociedade.
Do jeito que está hoje o financiamento, o risco que vejo é que saiam na frente os candidatos mais ricos e/ou aqueles com os amigos mais ricos (e aqui estamos falando de amigos pessoais, dispostos a investir de suas fortunas pessoais para bancar uma campanha, o que é completamente diferente de fazer isso com o dinheiro da sua empresa). Para minimizar o efeito disso, as pequenas doações de um grande número de pessoas podem fazer a diferença. Foi assim na vaquinha para as viagens de Dilma, onde grande parte dos contribuintes doou menos de 100 reais.
É preciso ressaltar, no entanto, que não é fácil conseguir criar um clima social e uma narrativa que favoreça a doação de dinheiro para campanhas políticas. Sobretudo com o alto nível de descrédito do sistema político. O Partido dos Trabalhadores mesmo já havia aberto mão do financiamento empresarial antes que a mudança ma legislação passasse. Logo em seguida lançou uma campanha de crowdfunding do partido. Não é possível saber quanto foi arrecadado, pois este dado não está publicado (pelo menos eu não encontrei), mas pela falta de notícias sobre a iniciativa tende-se a crer que não tenha tido grande sucesso.
Aliás, a questão da transparência das finanças partidárias é uma forte consequência desse tipo de campanha de arrecadação. As pessoas, com razão, se perguntam: mas para onde vai o meu dinheiro? como sei que ele será usado na campanha mesmo? Torna-se necessário prestar contas a um número muito maior de pessoas que estão muito mais atentas ao que foi feito com o seu dinheiro.
A vaquinha para as viagens de Dilma foi completamente diferente da campanha lançada pelo PT. Primeiro que quem assina a campanha são duas amigas dela de clandestinidade (e se foram elas mesmas ou uma estratégia do partido pouco importa aqui pois o argumento colocado como incentivo para a doação é convincente). O vídeo de apresentação é extremamente comovente e apela não para um discurso político partidário, mas para uma relação de amizade, solidariedade e respeito. Segundo que o clima social estava com ventos extremamente favoráveis: a constituição do impeachment como golpe ganhando cada vez mais força, o governo interino tomando medidas completamente descabidas em relação à presidenta eleita e uma mobilização social crescente para defendê-la. Terceiro que os dados de arrecadação estão ali, publicados na página da campanha, o que estimula ainda mais as pessoas a doarem. Enfim, uma conjunção de fatores que permitiu que a campanha fosse um sucesso.
As eleições deste ano serão um grande terreno de experimentação para esse tipo de iniciativa. A ver como e quem conseguirá mobilizar os cidadãos a doar.