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“Não precisamos mais ser um partido, um site faz quase tanto barulho quanto eles”

Le mouvement commun Voix de Gauche. Pour que la Gauche reste une espérance

Esta frase me chamou muita atenção na matéria da revista francesa Nouvel Obs sobre as novas iniciativas cidadãs para as eleições de 2017. O desencanto com os partidos políticos e seus representantes é palavra de ordem corrente por aqui. E a população está se organizando para recolocar os cidadãos no centro do debate político. São novos coletivos, que não se organizam como partidos e, por enquanto, não disputam eleições. O Mouvement Commun, o Voix de Gauche e o Ma Voix, são exemplos disso.

Achei muito interessante que uma das iniciativas cidadãs aqui é tentar promover prévias por conta própria (La Primaire e Primaire de Gauche). Insatisfeitos com a falta de debate sobre quem serão os candidatos, os cidadãos tentam angariar dinheiro através de crowdfounding e reunir uma parcela significativa da população em uma plataforma que permitiria que eles mesmos fizessem essa primária. Essa tentativa abre diferentes frentes de discussão, mas me salta aos olhos o tipo de relação que se estabelece com os partidos políticos.

La Primaire Ouverte pour les élections de 2017   LaPrimaire.org

Apesar do discurso ser de que “já não precisamos mais deles”, a tentativa de fazer prévias mostra o respeito que há pela importância dos partidos e da decisão coletiva. Trata-se mais de um discurso de renvovação de práticas partidárias do que de uma adesão ao individualismo e à negação da coletividade, que à primeira vista esses movimentos podem trazer.

Como as pessoas aprendem sobre suas comunidades locais?

Uma pesquisa recém lançada da Pew Internet mostra que as formas de as pessoas aprenderem sobre seus ambientes locais se diversificaram. Segundo eles, as pessoas buscam informações em mais meios e de formas bastante diversas. Ficou constatado que o tema pelo qual se busca também influencia diretamente na escolha da fonte que se busca. Especificamente sobre “política local”, a pesquisa mostra que a televisão e os jornais impressos ainda tem um papel bastante importante, seguidos da internet.

Principais fontes de informação sobre política local

É interessante notar na pesquisa que, ao contrário do que muitas pesquisas acadêmicas ainda sugerem, não há uma dicotomia entre meios de comunicação tradicionais – como tv e rádio – e meios digitais – como jornais online, sites de redes sociais, blogs. O que a pesquisa mostra é que esses dois tipos de meios convivem na escolha diária do cidadão por fontes de informação.

Como “a internet” representa hoje coisas muito diversas, seria interessante se houvesse subcategorias para que pudéssemos entender melhor o papel das diferentes fontes de informação online. Não custa lembrar que a Pew Internet é americana e que, portanto, essa pesquisa se refere aos hábitos de consumo dos estadunidenses.

Novos media e a democracia na África

Alguns dos acontecimentos políticos mais relevantes deste ano tiveram lugar no continente africano. As revoltas contra governos ditatoriais, o uso de força policiais para reprimir os movimentos e o papel dos novos media em todo esse processo puderam ser vistos em diversos países africanos. O livro “Texting, Tweeting, Mobile Internet. New Plataforms for Democratic Debate in Africa” visa exatamente refletir sobre esses processos políticos, a partir do prisma das novas tecnologias de informação e counicação. O autor é Tom Sarrazin, mestre pela Universidade de Lepzig, na Alemanha e o livro faz parte do projeto “fesmedia Africa series” que tem apoio do Friedrich Ebert Stiftung.

Simpósio discute Mídia e Eleições no Brasil e na Alemanha

simposio midia eleiçõesEstá acontecendo ontem e hoje em Salvador o Simpósio Internacional Mídia e Eleições na Alemanha e no Brasil: comparando mass media e new media. Promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas em conjunto com o Goethe Institut, o evento objetiva discutir temas relacionados às comunicação e política comparativamente nos dois países envolvidos.

Ontem pela manhã aconteceu a palestra de Afonso de Albuquerque, da Universidade Federal Fluminense, que falou sobre “Comunicação de Massa e formação da opinião pública no Brasil”. Em sua exposição, Afonso se propôs a discutir as entrevistas realizadas pelo Jornal Nacional com os presidenciáveis. Sua análise partiu de um apanhado histórico sobre democracia e do papel da imprensa e do jornalista dentro dela.

Afonso levanta a questão de que, no Brasil, o jornalista não assume apenas o papel técnico de produzir notícias e levá-las ao público sem se preocupar com nenhum dos envolvidos nem com as consequências daquilo. Para o pesquisador, o jornalista brasileiro assume o papel de defensor do interesse do público o que lhe concede uma posição diferenciada de mediador.

É sobre esse papel do jornalista como mediador que Afonso busca chamar atenção. Ele argumenta que as pesquisas na área geralmente falam sobre a cobertura dos media, do impacto sobre a opinião pública e dos interesses políticos aliados aos media, mas que se considera os próprios media como espaço vazio. Portanto seria preciso compreender melhor esse processo de mediação e que elementos estão envolvidos nele.

Durante a etapa de perguntas, o professor Wilson Gomes questionou o palestrante se esse papel que o jornalista brasileiro assume não seria fruto de disputas internas do próprio campo para ganho de prestígio e autoridade. Gomes argumenta que o comportamento hostil e superior de jornalistas superstars com os políticos pode ser visto como uma forma de diferenciação dentro do próprio campo social do jornalismo. O palestrante concorda que esses são aspectos a serem levados em conta como parte desse processo de mediação.

O evento continua hoje e a programação completa pode ser vista aqui.