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Quem melhor me representa?

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Essa é a pergunta que o coletivo Ma Voix (Minha Voz) está fazendo aos cidadãos da cidade francesa de Strasbourg durante a campanha para eleições legislativas parciais. Pelas ruas da cidade podem ser vistos cartazes com a pergunta “Quem melhor me representa?” com um espelho logo abaixo, refletindo o rosto de quem para para observar o cartaz.

É uma forma interessante de colocar o debate político em tempos de crise de representatividade e demandas demaior participação. Estaríamos mesmo no momento de tornar a política algo comum e próximo ao cidadão – e não mais um universo de difícil acesso, um círculo restrito – a ponto de qualquer pessoa poder se considerar apta a ser candidata?

A ideia do coletivo, que faz questão de se diferenciar dos partidos tradicionais, é exatamente essa. O método usado para escolher seu candidato nas eleições foi nada mais nada menos que um sorteio. As interpretações sobre essa escolha podem ser diversas, mas uma coisa parece clara: a relação dos cidadãos com a política está mudando em vários lugares do mundo. Quem começa a buscar alternativas ao invés de apenas se apegar a estruturas que em muitos sentidos estão ultrapassadas, pode ter uma vantagem considerável.

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Conivência com corrupção na América Latina é muito menor hoje, opina professor da Sorbonne

Georges Couffignal considera que o aumento dos escândalos é fruto de maior consciência política e da diminuição da tolerância com a corrupção

Por Nina Santos*

As últimas semanas em Paris tiveram a América Latina como pauta importante. Os resultados eleitorais recentes, os escândalos de corrupção, o papel dos meios de comunicação e as perspectivas incertas de futuro chamam a atenção dos analistas europeus. “É bom falar do tema da corrupção na América Latina, pois frequentemente dizemos muitas besteiras sobre isso”, afirma Georges Couffignal, professor emérito em ciências políticas da Universidade Sorbonne Nouvelle. Para ele, o que acontece na região é um aumento da consciência política e uma diminuição da tolerância moral com a corrupção. Ele lembra que durante anos houve certa conivência com as políticas clientelistas e com a lógica do “rouba mas faz” e o rompimento desse comportamento é o que explica vários escândalos de corrupção atuais.

Foto: Nina Santos

Foto: Nina Santos

O debate sobre a atulidade latino-americana esteve em pauta em função da visita do presidente cubano Raul Castro na segunda-feira (1), da apresentação do relatório anual do Observatório Político da América Latina da Sciences Po (Opalc) e de dois debates, um no Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris) e outro na Embaixada do Brasil.

A questão da imprensa aparece como central em muitos debates na França, onde as críticas aos meios locais não são pequenas, mas é impensável um sistema de comunicação com quase monopólio da iniciativa privada. “Os meios de comunicação na América Latina dificilmente podem ser considerados como um quarto poder em favor do cidadão”, afirma Jean-Jaques Kourliandsky, pesquisador do Iris ourliandsky.

Por outro lado, as recorrentes denúncias de corrupção aumentariam, na opinião de alguns analistas, a sensação de desconfiança dos eleitores em seus representantes, abrindo espaço para o reaparecimento da figura do outsider político: personalidades de outras esferas públicas que mergulham na disputa política com um apelo ético, discurso desideologizado e rechaço à classe política tradicional, caso observado na Guatemala, em 2015.

Resultados eleitorais: uma virada à direita?

Os últimos resultados eleitorais no continente, com destaque para Argentina e Venezuela, são especialmente interessantes por aqui. Para Olivier Dabène, coordenador do Opalc, embora não seja possível afirmar que haja uma virada à direita, essa tendência pode ser observada nas eleições de 2015 e indica um novo caminho da região. “Com toda a prudência que requer esse gênero de exercício, há espaço para prever uma derrota da esquerda no Peru em 2016, no Chile em 2017, no Brasil, na Costa Rica e na Venezuela em 2018, e, enfim, em El Salvador em 2019”, prevê Dabène.

Foto: Nina Santos

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Essa visão um tanto fatalista não é, no entanto, consenso. Couffignal, considera que falar de um ciclo de governos de direita que substituiria um ciclo de esquerda é reducionista. Ele lembra que enquanto a região vivia o dito ciclo de esquerda o México, segundo maior país da região, tinha um governo conservador, assim como a Colômbia. Para Couffignal, as diversidades internas da região não permitem esse tipo de generalização simplificadora. “Eu não concordo com meu colega Dabène sobre a projeção dele para as próximas eleições na América Latina”, deixa claro.

Mudanças dos últimos 15 anos transformaram a sociedade latino-americana. Para onde vamos agora?

A percepção de que as mudanças pelas quais a América Latina passou nos últimos 15 anos foram profundas e transformaram as sociedades tem bastante evidência. Ignacio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique em espanhol, destaca que as 232 milhões de pessoas que sairam da pobreza na região estão agora exigindo uma maior qualidade dos serviços prestados pelo Estado. “As demandas da sociedade são diferentes, mas o discurso político é o mesmo”, opina. Ramonet destaca, no entanto, que o discurso conservador englobou os programas sociais e que a maioria das oposições hoje não propõe o fim das políticas implementadas. O que fazem é reivindicar a capacidade de aplicá-las de forma mais eficiente.

O questionamento sobre o rumo que estas mudanças estão tomando nos últimos anos parece ter múltiplas respostas. Para Kourliandsky, o Brasil vive hoje uma paralisia do Estado, que se vê incapaz de continuar as políticas sociais e manter a importância internacional do país. Já para Couffignal, está acabando a era dos ‘hiperpresidentes’ e començando uma geração de governos de coalizão – à exceção do Brasil, onde, para o pesquisador, o governo já era de coalizão -, o que muda substancialmente a forma de governar e traz diversos novos desafios.

Um ponto de acordo parece ser a estabilidade institucional da região. Os intelectuais são quase unânimes ao reconhecer a estabilidade da democracia latino-americana, mesmo face a alternâncias de poder. Não há especulações sobre a volta de ditaduras militares, como nas décadas de 60 e 70, mas sim discussões sobre os rumos que as democracias podem tomar.

Foto: Nina Santos

Foto: Nina Santos

Perspectivas futuras

Em um cenário econômico pouco favorável, com um sentimento de insatisfação política grande, fazer previsões sobre o futuro da região se torna uma tarefa mais complexa e arriscada.

Por um lado, a estabilidade institucional da região aponta para um futuro democrático. As lutas das últimas décadas para consolidar as democracias parecem ter resultados positivos na maioria dos países. No entanto, a vontade de renovação política – não apenas de atores, mas sobretudo de práticas – é latente e a crise econômica é uma realidade. Para Pablo Gentili, secretário-geral do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso), os avanços da região no último período não foram fruto simplesmente de um ciclo econômico positivo, mas sim de decisões políticas acertadas. Portanto, ele acredita que a tarefa atravessar esse novo período com sucesso – ou pelo menos com poucas perdas – é também da esfera política.

“Eu não acredito em volta atrás. Não há momentos de descanso. É preciso continar lutando. Por isso precisamos de utopias”, destaca Jean Paul Guevara Avila, embaixador da Bolívia em Paris. Ele acredita que a experiência latino-americana pode servir para mostrar aos europeus uma outra forma de viver. Já para Paulo Campos, embaixador do Brasil em Paris e anfitrião de um dos debates realizado em parceria com o Clacso, é importante apresentar a versão latino-americana sobre a nossa própria região. Para tanto, ele destaca a importância de que os intelectuais latino-americanos debatam a região e apresentem suas próprias visões do que se passa.

*Nina Santos, 28, é jornalista e doutoranda no Centro de Centro de Análise e Pesquisa Interdisciplinar sobre Mídia (CARISM) da Université Panthéon-Assas.

 

“Não precisamos mais ser um partido, um site faz quase tanto barulho quanto eles”

Le mouvement commun Voix de Gauche. Pour que la Gauche reste une espérance

Esta frase me chamou muita atenção na matéria da revista francesa Nouvel Obs sobre as novas iniciativas cidadãs para as eleições de 2017. O desencanto com os partidos políticos e seus representantes é palavra de ordem corrente por aqui. E a população está se organizando para recolocar os cidadãos no centro do debate político. São novos coletivos, que não se organizam como partidos e, por enquanto, não disputam eleições. O Mouvement Commun, o Voix de Gauche e o Ma Voix, são exemplos disso.

Achei muito interessante que uma das iniciativas cidadãs aqui é tentar promover prévias por conta própria (La Primaire e Primaire de Gauche). Insatisfeitos com a falta de debate sobre quem serão os candidatos, os cidadãos tentam angariar dinheiro através de crowdfounding e reunir uma parcela significativa da população em uma plataforma que permitiria que eles mesmos fizessem essa primária. Essa tentativa abre diferentes frentes de discussão, mas me salta aos olhos o tipo de relação que se estabelece com os partidos políticos.

La Primaire Ouverte pour les élections de 2017   LaPrimaire.org

Apesar do discurso ser de que “já não precisamos mais deles”, a tentativa de fazer prévias mostra o respeito que há pela importância dos partidos e da decisão coletiva. Trata-se mais de um discurso de renvovação de práticas partidárias do que de uma adesão ao individualismo e à negação da coletividade, que à primeira vista esses movimentos podem trazer.

Quais eram as perspectivas sobre as mídias sociais nas eleições de 2012?

Hoje, em uma pequena sessão nostalgia, relembrei uma entrevista que concedi para a TVT, em 2012. O tema era o uso das mídias sociais nas vindouras eleições municipais daquele ano. Muita coisa mudou, é verdade, mas algumas questões abordadas continuam atuais. Pensando que em 2016 teremos também eleições municipais e com chance de sérias modificações nas regras do jogo (principalmente o fim do financiamento empresarial), pode ser um bom momento para relembrar o contexto daquele ano e analisar perspectivas futuras.

Workshop sobre monitoramento político promovido pelo Scup

O Scup promove, no próximo dia 26, em São Paulo um workshop sobre uso do monitoramento em campanhas políticas. O curso será ministrado por dois integrantes da equipe de monitoramento da campanha de José Serra, em 2010. Na ocasião também será apresentado um estudo sobre o que está sendo comentado na rede sobre os pré-candidatos à prefeitura de São Paulo. Mais informações no blog do Scup.

Mídias Sociais e Política

Ontem tive o prazer de participar do Social Web Day, um evento produzido pela empresa Rebellion que visa discutir diversos temas relacionados às redes sociais digitais. A edição desse mês foi sobre política e mídias sociais e falei um pouco do cenário que está se desenhando para as eleições deste ano. Foi uma apresentação geral do tema que ficou bastante enriquecida com as mais de 15 questões que animaram o final do debate.

Google+ lança guia para políticos

A rede Google+, em mais uma tentativa de se consolidar definitivamente no mercado e de olho nas eleições vindouras, lançou um guia para o uso político da plataforma. O texto é bem básico, mas também muito explicativo sobre as potencialidades dessa rede. Explica como compartilhar conteúdos com círculos específicos, como apoiar causas e mostrar quem lhe apoia como compartilhar conteúdos em geral. É um bom material para quem está começando.

A dica desse post veio do twitter do grupo Ponte UFC

Relatório sobre uso da Internet nas eleições de 2010

A pesquisa é de janeiro, mas confesso que só tive acesso a ela ontem. Apesar de tratar apenas da realidade americana, a pesquisa traz dados demográficos daqueles que usam a internet para fins políticos bem como os tipos de uso mais comuns. É possível encontrar também a divisão por partido – nesse quesito, o uso não apenas cresceu mais se tornou mais homogêneo entre democratas e republicanos. Alguns dos gráficos trazem comparações com a pesquisa realizada após as eleições de 2008, o que permite acompanhar a evolução de alguns quesitos. A pesquisa foi realizada pela Pew Internet, instituição bastante reconhecida na realização desse tipo de trabalho, e está disponível em PDF.

Mídias Sociais e Eleições 2010

Com muito atraso, mas antes tarde do que nunca, publico aqui o link para o e-book Mídias Sociais e Eleições 2010, organizado por mim, pelo Ruan Carlos e pela PaperCliQ. A publicação foi lançada no início de maio em uma edição especial do Papos na Rede. Já falei muito sobre ele em posts anteriores, então não vou me alongar sobre o conteúdo, mas ficarei feliz de receber comentários e impressões sobre o e-book.

É amanhã: lançamento do e-book sobre Mídias Sociais e Eleições

Anunciei aqui na semana passada que estaria saindo do forno em breve um e-book com mais de   20 textos de renomados profissionais e pesquisadores sobre o uso das redes sociais online nas eleições de 2010. Pois, o lançamento da publicação será amanhã, às 21h, no Papos na Rede. Após o lançamento, o e-book será disponibilizado para download.