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“Não precisamos mais ser um partido, um site faz quase tanto barulho quanto eles”

Le mouvement commun Voix de Gauche. Pour que la Gauche reste une espérance

Esta frase me chamou muita atenção na matéria da revista francesa Nouvel Obs sobre as novas iniciativas cidadãs para as eleições de 2017. O desencanto com os partidos políticos e seus representantes é palavra de ordem corrente por aqui. E a população está se organizando para recolocar os cidadãos no centro do debate político. São novos coletivos, que não se organizam como partidos e, por enquanto, não disputam eleições. O Mouvement Commun, o Voix de Gauche e o Ma Voix, são exemplos disso.

Achei muito interessante que uma das iniciativas cidadãs aqui é tentar promover prévias por conta própria (La Primaire e Primaire de Gauche). Insatisfeitos com a falta de debate sobre quem serão os candidatos, os cidadãos tentam angariar dinheiro através de crowdfounding e reunir uma parcela significativa da população em uma plataforma que permitiria que eles mesmos fizessem essa primária. Essa tentativa abre diferentes frentes de discussão, mas me salta aos olhos o tipo de relação que se estabelece com os partidos políticos.

La Primaire Ouverte pour les élections de 2017   LaPrimaire.org

Apesar do discurso ser de que “já não precisamos mais deles”, a tentativa de fazer prévias mostra o respeito que há pela importância dos partidos e da decisão coletiva. Trata-se mais de um discurso de renvovação de práticas partidárias do que de uma adesão ao individualismo e à negação da coletividade, que à primeira vista esses movimentos podem trazer.

O que o cidadão pode fazer na web

Hoje encontrei uma apresentação muito interessante sobre oportunidades e ideias de iniciativas que os cidadãos podem ter no ambiente online para monitorar e acompanhar o sistema político e resolver pequenos problemas do dia-a-dia. A apresentação foi feita pensando em startups cívicas, mas acredito que ela possa ajudar os cidadãos em geral a conhecer iniciativas que já existem e refletir sobre como podem agir.

Agendamento e Sites de Redes Sociais

Minha apresentação de ontem, no Conlab – Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais. Mais sobre o congresso e o artigo completo podem ser visto aquis.

Não basta pensar nos cidadãos

Pode parecer contraditório com um post anterior (O cidadão como centro), mas não é. Para promover iniciativas efetivas que busquem a participação dos cidadãos nos processos políticos, e sobretudo governamentais, não basta abrir enquetes e fóruns. É preciso um passo anterior a essa busca da opinião e da discussão com cidadãos, que se trata de uma preparação interna da estrutura das organizações políticas para lidar com essa informação.

Para que a participação seja efetiva, tanto para o cidadão – que passa a sentir que sua opinião tem valor – quanto para as instituições e atores políticos – que podem aperfeiçoar processos e políticas a partir de outro ponto de vista – é necessário que se saiba o que fazer com os inputs recebidos da população. E o caminho que esses dados irão seguir e a importância que eles vão ter não são determinados por um setor específico de comunicação, mas pelo centro do poder político, que passa a ver nesse processo algo importante para seu próprio funcionamento.

Essas questões me vieram à mente após ler o interessante texto do Simon Burral, que desenvolve mais aprofundadamente essa questão.

O cidadão como centro

Falando em participação, a província canadense de British Columbia produziu um material interessantíssimo sobre estratégias tecnológicas para o serviço público. O documento procura analisar as possibilidades desse novo contexto a partir da perspectiva do cidadão, das suas formas de acessar serviços públicos, poupar tempo através de mecanismos online e participar do processo político.

Apesar de uma abordagem um tanto utilitarista da participação, o documento traz pontos interessantes para refletir sobre as possibilidades que o contexto online traz. É preciso, no entanto, ter sempre em mente que apesar de uma prestação de serviço eficiente ser essencial por parte de um governo, participação é muito mais que isso. Não se trata de participar apenas em estruturas já pré-estabelecidas, mas de possibilitar a participação dos cidadãos na própria conformação dos processos e decisões políticas.

Pesquisa inédita sonda satisfação do cidadão com E-gov

satisfaçao dos brasileiros com e-gov

Uma pesquisa realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) revelou que mais de 90% dos entrevistados está satisfeito ou muito satisfeito com os serviços de E-gov oferecidos pelo governo brasileiro. Porém, 60% dos entrevistados disse que a principal forma de acesso ao serviço público ainda é a presencial.

Esses dois dados me parecem, de alguma forma, contraditórios. Afinal, uma das coisas que espera-se de um E-gov eficiente é que agilize muitos dos serviços oferecidos pelo Estado pela internet, o que tenderia a diminuir muito a demanda de atendimentos presenciais. Acredito que dois fatores devem ser levados em conta na análise desses dados. Um primeiro seria a falta de parâmetros comparativos das pessoas que responderam à pesquisa, ou seja, o fato de se dizerem “satisfeitos” com o que já foi implementado talvez se deva à falta de conhecimento de possibilidades muito além das que já existem por aqui. Além disso, com certeza a falta de acesso à internet, e sobretudo ao conhecimento mais profundo do uso da internet, ainda afasta muitos cidadãos dessa plataforma, o que ainda gera uma grande demanda de atndimento presencial.

De todas formas, é uma pesquisa importante de ser feita e, sem dúvida, o acompanhamento dos seus resultados ao longo dosanos pode apontar caminhos interessantes. O download dos dados da pesquisa só pode ser feito mediante o preenchimento de um pequeno formulário, mas vale a pena.