Esta semana participei do I Confibercom – Congresso Mundial de Comunicação Ibero-Americana, que aconteceu na USP. O evento contou com diversas sessões temáticas e trabalhos de pesquisadores do continente americano, europeu e africano. Eu apresentei um artigo de autoria minha e do Tarcízio Silva, na Sessão de Marketing Político. A versão final do artigo será divulgada em breve, mas já seguem os slides da apresentação.
Arquivo do autor:Nina Santos
Novos media e a democracia na África
Alguns dos acontecimentos políticos mais relevantes deste ano tiveram lugar no continente africano. As revoltas contra governos ditatoriais, o uso de força policiais para reprimir os movimentos e o papel dos novos media em todo esse processo puderam ser vistos em diversos países africanos. O livro “Texting, Tweeting, Mobile Internet. New Plataforms for Democratic Debate in Africa” visa exatamente refletir sobre esses processos políticos, a partir do prisma das novas tecnologias de informação e counicação. O autor é Tom Sarrazin, mestre pela Universidade de Lepzig, na Alemanha e o livro faz parte do projeto “fesmedia Africa series” que tem apoio do Friedrich Ebert Stiftung.
Democracia Digital em Assembleias Legislativas
O estudo “Democracia Eletrônica no Brasil e no Mundo” é um excelente material para se pensar a função da democracia digital, sobretudo no âmbito das Assembleias Legislativas. O material é bem amplo e ajuda a refletir sobre a democracia online de forma ampla, mas, por ter sido elaborado como uma das etapas do projeto Direcionamento Estratégico da Assembleia Legislativa de Minas Gerais 2010/2020, ele enfoca mais nesse âmbito do poder estatal. A pesquisa é de autoria de Tiago Peixoto, consultor do Banco Mundial, e Tobias Wegenast, diretor da Marcoplan e traz não apenas direcionamentos para projetos de democracia digital, mas exemplos de iniciativas já existentes. Recomendo muito a leitura.
Gabinete Digital do Rio Grande do Sul e o botão “Curtir”
A iniciativa do Gabinete Digital do Rio Grande do Sul (mais informações sobre o projeto podem ser vistas no post do blog Comunicação e Política) tem se mostrado uma das ações governamentais mais interessantes do país na área da Democracia Digital. Apesar de ainda estar em uma fase bem inicial, acredito que a iniciativa tem potencial e, sobretudo, mostra uma disposição desse governo para pensar e investir nessas questões.
Ao visitar o site hoje, no entanto, me deparei com um pequeno box, localizado na home do portal, que permite que as pessoas curtam a página de Tarso Genro, governador do estado, no Facebook. Ver esse conteúdo na página levantou algumas questões para mim entre os limites entre uma iniciativa estatal (no sentido de pertencer ao estado e não a uma gestão específica que o ocupa em determinado momento) e daquelas vinculadas a determinado governante.
O Gabinete Digital é uma iniciativa do Governo de Porto Alegre do Rio Grande do Sul e, portanto, do meu ponto de vista, não deveria estar diretamente vinculada a nenhum governante. É claro que existem determinadas informações sobre quem ocupa o cargo que podem ser úteis aos cidadãos. O box com as atualizações do Twitter do governador, por exemplo, me parece uma boa fonte de informação para o cidadão e, portanto, pertinente.
Aqui chegamos então a um impasse que, nesse caso, me parece que é, em boa dose, técnico. Seguindo a lógica que expliquei no parágrafo anterior, o Facebook também pode ser uma importante fonte de informação ao cidadão. A questão é que a forma mais comum de inserir esse Site de Rede Social em outros sites não é através das atualizações em si (como se faz com o Twitter), mas através do convite a “Curtir” a página de determinado ator social ou empresa. E é nesse sentido que considero complicada essa inserção. Um site estatal que convida os visitantes a “Curtirem” o governador? Isso não seria mais apropriado a um site pessoal?
Enfim, acredito que essas são questões a se pensar: quais são nossas possibilidades técnicas e quais os critérios políticos que devem reger a escolha que fazemos delas.
Relatório sobre uso da Internet nas eleições de 2010
A pesquisa é de janeiro, mas confesso que só tive acesso a ela ontem. Apesar de tratar apenas da realidade americana, a pesquisa traz dados demográficos daqueles que usam a internet para fins políticos bem como os tipos de uso mais comuns. É possível encontrar também a divisão por partido – nesse quesito, o uso não apenas cresceu mais se tornou mais homogêneo entre democratas e republicanos. Alguns dos gráficos trazem comparações com a pesquisa realizada após as eleições de 2008, o que permite acompanhar a evolução de alguns quesitos. A pesquisa foi realizada pela Pew Internet, instituição bastante reconhecida na realização desse tipo de trabalho, e está disponível em PDF.
Crie seu índice de qualidade de vida
A OECD (Organization for Economic Co-operation and Devellopment) lançou a “Better Life Iniciative” que, à primeira vista, pode parecer mais um índice de qualidade de vida comparativo entre países. Mas essa iniciativa tem uma característica particular, o usuário pode escolher o peso de cada um dos 11 itens que compõem o índice. É uma forma interessante de refletir sobre o que é qualidade de vida para você e como é o desempenho dos países nos quesitos que lhe parecem mais fundamentais.
Senado discute Mídias Sociais
Essa semana o Senado realizou o debate “Políticas e Novas Mídias”, com participação de membros da casa e especialistas externos. Sem entrar nos pormenores da bajulação política com o presidente do Senado – que sem dúvida, desvia o foco do debate e empobrece a discussão -, gostaria de comentar um pouco sobre os discursos que ouvi.
Os membros da casa – ouvi as falas do presidente e do secretário de comunicação – me pareceram terem sim certo interesse na implantação de novas formas de comunicação no Senado, mas não me pareceram ter uma compreensão ampla do que seria esse processo. Por vezes apareceram ideias de que o foco das novas mídias seria a divulgação do trabalho dos senadores, com pouco foco na real valorização da opinião popular. Na verdade, o que ficou claro para mim uma vez mais é que essas iniciativas não vem do controle central, vem de departamentos e assessores de comunicação que conseguem convencer os dirigentes a implantar o projeto.
O que acontece é que muitas vezes a importância que é vista no projeto está mais na sua atualidade do que na possibilidade real de uma modificação no processo democrático. Isso porque, penso eu, não é possível criar um canal de comunicação efetivo com uma instituição como o Senado apenas através de ações de comunicação. São necessárias mudanças estruturais internas para abarcar esse novo cenário e dar algum sentido real a ele. E mudanças nesse sentido não pareceram estar no horizonte.
Por outro lado, os especialistas externos, muito conhecedores do ambiente online, de suas rotinas, procedimentos e ferramentas, pouco exploraram as especificidades da aplicação de uma comunicação online a uma instituição pública e representativa tão central quanto o Senado. Se, por um lado, muitas das estratégias e dos princípios do marketing online podem – e devem – ser aplicados a instituições políticas, por outro, se não se compreende profundamente qual o propósito final dessa ação, fica difícil atingir um objetivo significativo. Ou pelo menos significativo em termos de democracia.
Governo Federal planeja Portal de Participação Popular
Segundo matéria da Carta Maior (via Vi o Mundo), o Governo Federal finalmente está atentando para os cidadãos que não fazem parte de organizações sociais e planeja para 2012 um Portal de Participação Popular. O projeto seria desenvolvido pela Secretaria Geral da Presidência e já constaria no planejamento estratégico desse ano. Segundo Ricardo Poppi, responsável pelo projeto na Secretaria Nacional de Articulação Social (vinculada à Secretaria Geral da Presidência), o projeto pretende ser um espaço de consulta pública permanente, como uma ágora grega virtual.
Vamos esperar que o projeto realmente se realize e de maneira a realmente aproximar as pessoas dos processos de decisão política.
PoliTICs 09 – Resistência ou Rendição
Está no ar o número 09 da revista PoliTICs. A publicação é direcionada para temas na interface da política com as novas tecnologias da informação e comunicação e, nesta edição, trata de processos de resistência nos países árabes, na américa latina e no próprio cotidiano. São 06 artigos no total, mas destaco o do professor André Lemos, da UFBA, que trata do uso das mídias sociais nas recentes revoluções árabes.
Pensando a democracia
Tenho cada vez mais me dado conta da importância de pensar a sociedade de uma forma geral para entender fenômenos específicos. É claro que todos temos nossas áreas de interesse e nossos objetos de estudo, mas eles fazem parte de uma realidade social, econômica, histórica que precisa ser levada em conta. E pode ter certeza, seja lá o que for que você estude, alguém já escreveu algo que pode lhe servir.
Portanto, minhas dicas hoje vão no sentindo de entender de forma mais ampla o que é a democracia, por quais transformações ela passou e para onde ela estaria indo. Acredito que dois livros são interessantes nessa compreensão – apesar de existirem muitos outros que tratem do tema. O primeiro seria “Mudança Estrutural da Esfera Pública”, de Jürgen Habermas, onde ele analisa as mudanças sociais e sua influência no funcionamento da Esfera Pública enquanto âmbito central para o desenvolvimento da democracia. O segundo seria “O Futuro da Democracia”, de Norberto Bobbio, que procura fazer uma análise entre o ideal democrático e sua concretização, identificando algumas “promessas não cumpridas” da democracia.
Ambos os livros são de leitura razoavelmente fácil. O Futuro da Democracia está disponível online em português, já o livro de Habermas, consegui achar apenas em inglês (é preciso estar logado para baixar).









