Acordar cedo, com céu cinza, em pleno sábado só vale a pena se o motivo for muito bom. Sair da cidade e aproveitar um final de semana de tranquilidade, natureza e sol com certeza é, pra mim, um desses motivos. O destino escolhido dessa vez foi São Bento do Sapucaí, uma pequenina cidade no meio da Serra da Mantiqueira.
Estávamos em dúvida entre vários destinos próximos a São Paulo e decidimos por este, porque encontramos ali uma conjunção de paisagens lindas, tempo de viagem bom e uma pousada charmosa sem preços exorbitantes. A dica veio de Miriam, do Viaje na Viagem, que já esteve várias vezes na cidade.
Alugamos um carro e em 3 horas de estrada estávamos no nosso destino. Esse foi um teste para a nossa decisão de viver em São Paulo sem carro. O último argumento que usam para tentar nos convencer sobre as vantagens de ter um carro, já que muita gente já percebeu que financeiramente não vale a pena, é que com ele fica muito mais fácil viajar nos finais de semana. Pois nós pagamos 93 reais em dois dias de aluguel pela Hertz (que aliás descobrimos que agora se juntou com a Localiza virando Localiza Hertz) fomos simpática e rapidamente atendidos no guichê da Rodoviária do Tietê (onde se chega facilmente de ônibus ou metrô) e logo começamos nossa viagem. Com esse preço de aluguel, ficou ainda mais difícil me convencerem da vantagem de ter carro.
São Bento é uma graciosidade. Centrinho muito pequeno e super bem cuidado, povo muito simpático e receptivo. Diferente de outras cidades de serra que viraram moda e são um agito só (como Campos do Jordão e Monte Verde), ali reina a tranquilidade. Há alguns restaurantes, todos simples e de comida caseira, a maioria oferece preço fixo para comer quanto quiser. Não há sombreiros da Baden Baden e rodízios de fondue a cada esquina. Experimentamos e adoramos o Sabor da Serra, que fica bem no centrinho, a Cantina do Tio Guiseppe que tem uma sequência de massas muito boa e fica no começo da estrada para as cachoeiras e a Pedra do Baú e o Restaurante Pedra do Baú , cuja comida é apenas ok, mas a vista compensa.
A cidade está a poucos quilômetros da Pedra do Baú, o que significa que ela está exatamente do lado oposto de Campos do Jordão. Uma estradinha estreita, mas em bom estado leva até a pedra, com direito a cachoeiras pelo caminho. A rampa de voo de parapente é o local perfeito para assistir ao pôr do sol (também dica de Miriam).
Muitos elementos tornaram essa viagem muito especial: o tempo estava perfeito, sol e calor de dia, friozinho à noite; a necessidade de um final de semana de paz; o reencontro com a rotina maravilhosa de ler literatura depois de tanto tempo só com leituras acadêmicas; e com certeza a pousada escolhida.
Ficamos na Pousada do Quilombo, que agora adotou o nome de Resort, mas felizmente não tem nada que lembre piscinas lotadas, restaurantes com comida de carregação ou coisas do tipo. Nosso quarto era extremamente confortável e tinha tudo que você precisa nessas ocasiões: uma boa cama, um chuveiro delicioso, uma lareira preparada para ser acendida e uma varanda maravilhosa de onde pudemos ver o céu estrelado à noite e curtir os primeiros raios de sol da manhã nascendo atrás da Pedra do Baú. Simplesmente incrível. Eu não queria vir embora.
A pousada tem muitos outros serviços, como um catálogo de dvds digno de uma locadora, espaço com brinquedos para crianças, mesas de sinuca, ping-pong e totó (é assim que chamamos na Bahia o que os paulistas chamam de pebolim). Mas para mim e meu marido bastou o quarto, aquela vista incrível e a companhia de nossos livros. Nesta viagem eu li o encantador livro “Todos adorávamos caubóis”, da jovem escritora gaúcha Carol Bensimon. Não poderia ter sido mais oportuno. É um romance leve e envolvente sobre uma roadtrip de duas amigas pelo interior do Rio Grande do Sul. Foi um ótimo reencontro com a literatura.
Gostar ou não de uma viagem, de um destino, de um hotel tem sempre muito a ver com nosso momento pessoal. Nesse caso, tudo se encaixou e tenho a impressão de que voltarei muitas e muitas vezes a São Bento do Sapucaí em busca dessa paz que ela me trouxe.