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Câmara, Feira e Circo

Essa semana tive a oportunidade de assistir pela primeira vez a uma sessão ordinária da Câmara de Vereadores de Salvador. Não se tratava de um sessão qualquer, mas sim da votação de um projeto de alteração no código tributário do município, proposta do exeutivo. A questão já vinha gerando polêmica pela urgência que a prefeitura impôs à votação e a impossibilidade de os vereadores avaliarem cuidadosamente o projeto.

Ao chegar ao plenário me deparei com uma verdadeira feira. Pessoas conversando alto, outras ao celular, vereadores andando para todos os lados e alguém discursando na plenária sem ser ouvido. Primeiro achei que se tratava de algo circunstancial, mas logo percebi que não.

Além de não dar a mínima importância para o que os colegas falam, os vereadores ainda interrompem as falas a todo momento com ‘questões de ordem’ e ‘comunicações inadiáveis’ absolutamente absurdas. As questões de ordem, que deveriam servir para se questionar o regulamento da casa, são usadas para emissão de opiniões enquanto as comunicações inadiáveis, cujo nome é auto-explicativo, servem para comunicar aniversários e coisas afins. O barulho é tão grande na plenária que a pessoa que discursa tem que gritar para tentar ser ouvida. E não há vereador que seja excessão a isso.

Não estou dizendo que a postura de todos os vereadores em relação ao projeto em votação foi a mesma, de forma alguma, mas em relação ao funcionamento geral da Câmara, ninguém me pareceu incomodado. Sobre a votação, aconteceram mais alguns absurdos. Além do já citado prazo exíguo para votação de um projeto dessa importância, o presdente da casa queria votar o projeto sem que os vereadores de oposição soubessem o parecer sobre as emendas apresentadas. Isso sem falar nos tempos de debate inutilizados: “Está aberta a discussão…[1/2 seg]… Está encerrada o discussão”, pressa do presidente e morosidade dos membros da casa.

Para premiar a tarde ainda foi possível ouvir vereadores pedindo que a sessão acabasse logo para que pudessem ir ao Barradão ver o jogo do Vitória. Nesse contexo é impossível não se sentir num circo. Nós eleitores fazemos o papel de quem vota fingindo acreditar em alguém e eles fingem, muito mal diga-se de passagem, que fazem algo pela cidade.

É bom deixar claro que não fui à Câmara pensando que seria uma casa perfeita, onde as pessoas debatem, se entendem e se preocupam com o futuro da cidade. Essa ilusão eu já perdi faz um pouco mais de tempo, mas ainda assim consegui me surpreender (negativamente) com o lugar onde, pelo menos oficialmente, o futuro da nossa cidade é decidido.