Pesquisa

Mediação, visibilidade e autoridade na era da comunicação digital

Atualmente minhas pesquisas têm se concentrado na percepção de que as transformações trazidas pelas tecnologias digitais de comunicação e informação às sociedades contemporâneas vão muito além de uma suposta desintermediação das trocas comunicacionais entre emissores e receptores.

Ao contrário de uma parte da literatura que considera que a diversificação das vozes capazes de emitir informação para além do âmbito do jornalismo profissional significaria uma possibilidade de comunicação mais direta entre as pessoas, minha percepção é a de que, ao contrário, essa mediação se torna cada vez mais complexa, pulverizada e pouco visível. Essa nova dinâmica de mediação envolveria tanto o questionamento de tradicionais mediadores sociais (a chamada crise epistemológica, que afeta religião, ciência, política etc), quanto a emergência de novos mediadores que passam a ocupar esse espaço . Não se pode negligenciar ainda o papel dos mediadores não-humanos que passam a fazer parte desta equação, como os algoritmos e os processos de automação.

Essas novas dinâmicas de mediação da informação acarretam uma mudança também na forma como temas e atores se tornam visíveis no debate público. A forma como a visibilidade se constrói é fortemente relacionada aos processos de mediação e, portanto, é impactada com essa transformação. Não se pode deixar de mencionar ainda que as maneiras de reação e contestação aos fatos sociais também estão relacionadas à forma como essa visibilidade se constrói, o que faz com que também elas sofram transformações. As transformações dos processos de mediação acarretariam, portanto, mudanças nas formas de produção de visibilidade o que impacta as maneiras de compreender e de contestar uma dada realidade.

Para tentar compreender esse encadeamento complexo, tenho me dedicado a três frentes de trabalho. A primeira está ligada ao debate sobre a construção/desconstrução de autoridades sociais. Nela busco compreender tanto o questionamento dos papéis tradicionais da ciência e dos políticos, por exemplo, quanto a emergência de novos atores sociais fortes. Uma segunda frente de trabalho pretende entender como essa transformação das mediações afeta os processos eleitorais, tanto do ponto de vista da comunicação estratégica quanto dos novos desafios ligados à efemeridade, invisibilidade ou hiper-visibilidade de determinados processos comunicativos. A terceira linha se volta mais diretamente para as formas de contestação não-institucionais à realidade, especialmente ao ativismo, tentando entender se e o que muda nessas práticas.